Debate | Igreja dos Gregos comemora 60 anos com festa neste mês

Debate, 1º de setembro de 2018

Igreja dos Gregos comemora 60 anos com festa neste mês

Restauradores argentinos estão há seis anos em Lins, mas falta de apoio financeiro é uma ameaça ao projeto de restauração

Nos dias 7, 8 e 9 deste mês haverá a 5ª Grande Festa de Panaghya Tsambika (“Igreja dos Gregos”). Neste ano, a festa é ainda mais especial, serão comemorados os 60 anos da construção da igreja. Nos três dias a festa começa às 19 horas e no dia 8 haverá a missa solene, às 19h30. A quermesse conta com comidas típicas, e também é possível fazer adesão antecipada para os pastéis, que custam três por R$ 10,00.

A festa não se trata apenas de comemoração, também é uma forma de arrecadar recursos para dar continuidade à restauração, iniciada há seis anos. Desde agosto de 2012, os artistas sacros argentinos padre Nectários e irmã Makrina restauram a igreja de forma voluntária, como o Debate já publicou em reportagem anterior.

Além da restauração dos 159 ícones de influência veneziana, os restauradores acabam fazendo serviços de toda espécie, os últimos foram a troca de encanamento, instalação da parte elétrica e câmeras de vigilância, ventiladores, pintura das paredes, entre outros. Até a escada que utilizam para alcançar os ícones do teto da igreja foi confeccionada por eles. A restauração dos ícones não pode demorar, pois alguns já estão desmanchando. “Nós temos que usar máscaras, porque até a respiração faz com que eles se desmanchem, saem os farelos”, conta o padre.

O trabalho é árduo e segue no ritmo da entrada de recursos oferecidos pela comunidade da igreja ou esporádicas doações de terceiros. O Debate questionou o secretário municipal de Desenvolvimento Sustentado, Israel Alfonso, sobre a possibilidade de ser destinada parte da verba repassada pelo Ministério do Turismo, em razão de Lins ter sido classificada como Município de Interesse Turístico (MIT). A resposta do secretário é que isso não é possível. “A igreja pertence a uma organização religiosa. Portanto, não é propriedade pública. Os recursos do MIT só podem ser aplicados em propriedades do município”, afirmou.

Mesmo sendo o primeiro patrimônio histórico tombado no município, a Igreja dos Gregos parece entregue à própria sorte. O secretário Israel afirma que a propriedade é da Igreja Greco Melquita Católica. A irmã Makrina relata que foi celebrado um contrato com prazo de mais 14 anos. “A Igreja Greco Melquita celebrou um contrato com a Prefeitura até 2032 para ficar sob custódia da instituição. O que o Executivo havia acordado com a Igreja Ortodoxa antes, eu não sei”, conta.

Apesar de o contrato se estender ainda por mais de uma década, os restauradores não têm obrigação de continuar o trabalho. Mesmo enquanto eles quiserem continuar o restauro, sem mais recursos é impossível. O que recebem da comunidade é suficiente apenas para manter o que já foi realizado. Depois de seis anos de muita luta, nossos hermanos continuam sem receber o respaldo que o trabalho merece. Trata-se de um projeto minucioso — as peças de madeira, trono do bispo, lustres, colagem com folha de ouro em referência às estrelas no teto da igreja —, todos os detalhes são planejados e executados de acordo com as medidas Fibonacci. Todo o capricho e dedicação, muitas vezes, não são reconhecidos nem recompensados. O secretário Israel afirma que está tentando angariar recursos com o Rotary novamente. Esperemos que a população, entidades e autoridades tomem consciência da importância desse patrimônio.

Joia rara

A Igreja dos Gregos é a única do estilo em toda a América e uma das únicas quatro do mundo — as outras três encontram-se na Grécia. Uma raridade cultural, arquitetônica e histórica que atrai visitantes de todos os cantos do país e até de fora do Brasil. O grego Stefano Vassiliadis a construiu em Lins como pagamento de uma promessa atendida por Panaghya Tsambika. O acesso à Igreja dos Gregos se dá pela esquina da av. José Ariano Rodrigues com a rua Regente Feijó.

(Cíntia Papile)