Então, o que fazer?

juan1Outubro de 2014



Dias difíceis e de atividade intensa para toda a Igreja. Tanto no Oriente quanto no Ocidente

E, então, me vem à mente, aquele conceito do intelectualismo socrático que diz que basta conhecer o bem para realizá-lo, e que o mal se produz devido à ignorância. Oxalá ficássemos neste ponto sem analisar nada mais!

Oxalá pudéssemos parar neste marco, todo o complicado, retorcido e macro-labiríntico intelectualismo deste desvairado, absurdo e, acima de tudo, antilógico séc. XXI, mas é tão difícil!

Como debater desde os axiomas mais irrefutáveis da natureza, tal qual a temos entendido há milênios, ante o alegado direito do homem contemporâneo, de escolher sua própria natureza e seu suposto legítimo direito à sua visão particular, única e exclusiva da realidade?

Nada é definitivo, nada é certo, nem mesmo o sexo com o qual nascemos. Tudo é perigoso, qualquer opinião que emitimos, pode ser considerada discriminação, agressão, desajuste, etc.

Impossível encontrar respostas em um mundo onde cada um de seus habitantes gira em torno de seu próprio umbigo como um “todo” de existência exata.

Já não somos indivíduos de uma espécie de alta complexidade social, nos convertemos em espécimes mutantes, solitários.

Já não fazemos parte de uma sociedade, em que interatuamos e crescemos, contribuímos e que nos contribui. Hoje, os aglomerados sociais que nos contêm, são apenas o cenário onde provamos nossa capacidade de representação individual.

Tudo o que se pretende é vão numa sociedade humana onde a vida, a morte, o sexo, o papel a ser desempenhado, os direitos inerentes à condição humana, estão sujeitos à opinião pessoal do indivíduo. Onde “assumir” ou “não assumir” é prerrogativa particular.

Então, o que fazer?

Qual é o papel dos homens e mulheres da Igreja em meio a este caos? Porque nenhum de nós está fora deste mundo, nem isento de problemas, disposições, dificuldades e tentações dos tempos em que estamos vivendo.

Não deixamos de ser simples humanos, não somos super-humanos, e a condição religiosa não nos coloca em uma situação de privilégio. Pelo contrário, nos expõe, nos mostra, nos aponta, nos exige e nos condiciona.

Esta é a verdade.

E o que se supõe que deveríamos fazer, os cristãos, numa época como esta? AMAR.

Amar profundamente. Amar tanto até conseguirmos sair do turbilhão centrífugo do nosso próprio ser.

Amar de tal forma, que este amor nos coloque acima de nossas próprias apreensões e nossos próprios julgamentos.

Amar sem pensar, sem intelectualizar, sem aduzir ou prejulgar.

Amar além de nossos conceitos; por que quem de nós conhece de tal maneira os corações de seus irmãos, a razão da vida, o propósito da criação, a ponto de colocar-se como juiz?

Agora… como se pode amar de tal forma?

Como isso pode ser alcançado?

Colocando-te no lugar de teu irmão. Preocupando-te com suas alegrias e sofrimentos, seus sonhos e suas experiências, pondo-te no lugar dele e carregando, por um curto período de tempo que seja, a sua cruz.

O que farias em seu lugar?

Ouvi-lo, dando-lhe a oportunidade de caminhar junto a você, o caminho de Emaús. Oferecendo-lhe tua mesa ou aceitando a dele. Observando seu rosto, suas mãos, suas emoções. Encontrando teu sorriso em sua alegria, tuas lágrimas em sua dor, teu próprio entusiasmo em seus sonhos e esperanças.

Descentralizando-te. Incluindo-o em ti mesmo.

Isto é… indo contra a tendência, que tens que ir. Sem pensar por um segundo o que os outros esperam de ti nessa situação. Indo contra a razão paralisante dos preconceitos. Deixando-te levar por esse sentimento volitivo que nasce das profundezas.

Amor não é ocupar-se de tudo e sair procurando de que ocupar-se; amar é fazer-se responsável daquilo que o Espírito Santo guia até você, sem desculpas ou auto-justificativas.

Nós, os religiosos, mais do que ninguém, devemos permanecer em liberdade pessoal, para podermos lidar com a imediata necessidade dos demais. Do contrário, nosso estado religioso perde o sentido.

Amar é Acreditar, e Acreditar é Amar. Não para nos garantir um lugar no Mundo que há de vir, mas, para tornar desta Terra um lugar mais parecido a esse Mundo.