Helena Zarvos | Carta Aberta a Lins

Esta carta é um depoimento e um agradecimento que faço em nome de toda a coletividade grega, ausente de Lins há muitos anos, mas referida a esta cidade sempre na memória afetiva e no legado que marca sua passagem por estas paragens.

Para que todos possam compreender melhor nosso sentimento, devo desenhar o quadro que permanece na mente e no coração de todos os gregos ao falarem sua terra natal. Grande parte dos gregos que viveram em Lins veio de ilhas, as quais se eternizam nas lembranças em forma de casinhas brancas de cal, espalhadas pelas montanhas ou banhadas pelo mar turquesa e iluminadas pelo céu tão azul quanto o de nossa cidade…(quem sabe por isso Lins tenha sido escolhida por gregos que vieram ao interior?). Essas casinhas brancas, não são casas grandes e muito menos luxuosas, muitas delas não passam de pequenas edículas que se mantém belas, peculiares e enfeitadas com canteiros de exuberantes floradas de gerânios perfumados. A beleza dessas construções conhecidas e apreciadas por turistas do mundo inteiro, se deve ao cuidado de cada morador por sua aparência. Mãos zelosas cuidam de caiar ano após ano as casinhas que se tornam cartões postais. São edificações seculares, preservadas e embelezadas simplesmente porque cada um, ali, sabe que o cuidado de mantê-las pintadas de branco, cuidadas as flores e limpas tem nome… esse nome é “preservação” e se há algo que a Grécia oferece ao mundo é preservação: da cultura, da fé, das casinhas, dos costumes, dos valores que sustentam o mundo ocidental. Calçadas bem varridas, mesinhas e cadeiras de palhinha, pintadas de verde, vermelho ou amarelo forte, muito azul nas portas e janelas das casinhas gregas das ilhas… isso é preservação e isso atrai o mundo.

Parte importante desse quadro de beleza incomparável, vem das igrejinhas espalhadas pelas aldeias e, sobretudo, nos altos das montanhas. Em seu cimo que parece tocar o céu, brancas abóbadas se curvam diante de Deus, brancas, puras, espirituais. Dessa maneira é vista, de longe, pelo peregrino que vai subindo lentamente a montanha da Aya Tsambica em Rhodes, o templo original da santa, o primeiro a ser construído para reverenciar a luz que pastores viram brilhando no alto da montanha, no local onde foi encontrado o ícone a séculos. A montanha é tão alta e tão difícil a subida que para qualquer obra de manutenção ou reparo, sacas de areia e cimento são levados um pouco por cada pessoa que sobe para visitar o templo. A medida que se vai subindo percebe-se que alguém levou até um certo ponto uma lata de tinta por exemplo e deixou-a ao largo, a espera de outro turista ou devoto que leva outro tanto, até que com a devoção e o trabalho de todos, o material necessário para a obra é levado e utilizado. Lembro da minha emoção quando pude participar desse mutirão, para construção da escada, na montanha que facilitaria o acesso em alguns pontos… pareceu tão simples, em mutirão, a realização de uma grande empreitada…  e talvez por isso, lembrando dos muitos anos de tentativas para se fazer alguma coisa em beneficio do templo aqui em Lins, por parte de tantos membros de nossa comunidade, que fiquei tão comovida, ao receber a notícia na reunião passada do Comdephac, de que o Sr. Prefeito estava prestes a assinar o decreto de tombamento da nossa igrejinha da Aya Tsambica em Lins, a igreja dos gregos como todos a chamam. Finalmente, o empenho de tantos e tantos linenses sensibilizados com o valor desse monumento, de tantos gregos e amigos de gregos desejosos de ver delineado um bom destino para a casa religiosa que proporcionou conforto espiritual e preservação das tradições religiosas de nossos pais e avós resultou nessa conquista!

Tendo participado de quase todas as reuniões do conselho municipal do patrimônio histórico ambiental e cultural de Lins, senti grande alegria e gratidão ao sabê-la tombada por empenho de conselho e deferência do nosso digníssimo prefeito Eng. Waldemar S. Casadei. A comunidade helênica de S. Paulo foi imediatamente comunicada e todos respiraram aliviados, certos de que essa medida poderá colocar o tempo a favor dessa nossa pérola da arquitetura religiosa.

O tombamento abrirá as portas para a conservação mais adequada e mesmo do restauro, o que seria impossível sem o tombamento. Diante, portanto, de toda a comunidade Linense, vimos nós da coletividade helênica de S.Paulo, agradecer de público a todos os membros do conselho, a dona Maria fiel zeladora que sempre acreditou no valor desse templo, ao aluno Lucas Fernandes e prof.ª Sueli Tabian, cujo trabalho tanto ajudou nesse processo, a arquiteta Mauricia Godoy Silveira, a ONG Amigos da Aya Tsambica e a tantos outros que juntos “levaram cada um, o saquinho de cimento ou areia” para o cume da montanha… Nosso templo, linense, grego, brasileiro, do coração… será preservado. Muitíssimo obrigado, Sr. Prefeito e conselheiros. Agora vamos adiante, que o trabalho será fazer essa pérola reluzir eterna e iluminar o destino turístico e cultural de Lins!

Um brinde a sensibilidade de todos que tornaram isso possível!

Helena Zarvos

Membro do COMDEPHAC