A Gazeta de Lins nº 3498, 27 de julho de 1961
União dos cristãos em todo o mundo
Palavras de D. Ignátios Ferzeli, Arcebispo Metropolita Ortodoxo à imprensa
Aproveitando-nos do ensejo, a poucos dias, da visita que fez a Lins Sua Excia Revma Dom Ignátios Ferzeli, arcebispo metropolita da Igreja Ortodoxa, a reportagem deste matutino entrevistou o ilustre prelado acerca da possível união dos cristão de todo o mundo, como pretende Sua Santidade o Papa João XXIII.
Disse-nos Dom Ignátios Ferzeli, referindo-se de início ao próximo concílio Ecumênico:
— “Esse convite é sagrado — e todos nós alimentamos do âmago, a esperança de que os cristãos sejam um só; além do mais, é um dever imperioso nosso de realizar o desejo de nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, manifestado na Sua última oração, segundo o evangelista São João (17,11): ‘Pai Santo! Guardo em Teu nome aqueles que me destes para que sejam um, assim como Nós’. E nós, em todas as orações, dos diversos ritos, rogamos ao supremo Deus ‘pela boa consistência das Santas Igrejas e a união de todos’. Assim sendo, a nossa Igreja Ortodoxa atendeu prazerosamente ao apelo de Sua Santidade, cuja alma é constituída sem dúvida de verdadeira fraternidade, franqueza e igualdade desejadas; bem o diz o movimento já iniciado pelos nossos Patriarcas-chefes, realizando reuniões para estudar o assunto da união e outros empreendimentos gerais e particulares”.
E, concluindo, disse-nos ainda D. Ignátios acerca da possível união dos cristãos:
— “Tudo é possível para os homens quando prevalecem a sinceridade e a nobreza do objetivo, pois, as divergências entre as nossas Igrejas Ortodoxas e Católica Romana são, na maioria, de caráter administrativo, o que faz tornar-se estranhável até a perduração dessas divergências, que são ‘uma pedra de tropeço e rocha de escândalo’ (P 1,8) para a nossa fé cristã ‘una’. Nós rogamos ao Supremo que guie no bom caminho a todos os chefes das Igrejas cristãs para o bom êxito e feliz resultado, para que a Santa Igreja, ‘que o Senhor resgatou com o Seu próprio sangue’ (Act 20,28) possa voltar a ser o que era antes da separação e que desapareçam as divergências e contendas resultantes da situação equivalente àquela que o apóstolo Paulo definiu quando disse aos Coríntios: ‘Eu sou de Paulo, eu de Apolos e eu de Cephas’ (1 Cor 1,12), e de nos ser possível dizer em uma só voz, em uma só expressão: ‘somos todos de Cristo, pois o Cristo não é divisível’ (1 Cor 1,13) ‘para que como está escrito, aquele que glorifica se glorifique no Senhor’ (1 Cor 1,31), ‘para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus e na Terra e debaixo da Terra’ (Ph 2,10)”.