STEFANO VASSILIADIS (Parte 1)

Estefano Vassiliadis 1A vida é um mistério, e cada ser, outro mistério” (Stefano Vassiliadis)

Assim pensava esse homem quase lendário, chamado Stefano Vassiliadis. Esse homem que muitíssimas pessoas dizem haver conhecido, mas sobre quem poucos, ou ninguém, sabe alguma coisa.

E enquanto leio sua letra inclinada e alongada para a direita, digo a mim mesma, que a vida é realmente paradoxal, porque essa frase parece refletir sua própria existência e seu próprio ser, como se o próprio Stefano, a tivesse deduzido de si mesmo. A vida deste homem solitário e mítico, realmente é tão misteriosa como sua própria personalidade.

Stefano Vassiliadis, o homem que construiu uma igreja com recursos de suas próprias custas de imigrante recém-chegado, o homem que transformou em arado um velho tanque de guerra, o homem que terminou seus dias construindo um barco, com o qual sonhava retornar à sua terra natal para morrer.

Stefano Vassiliadis, que nasceu numa ilha grega, e viveu a guerra no velho continente, o homem que viajou por muitos lugares, o Comendador que plantou arroz às margens do rio Tietê, no Brasil, o mesmo que morreu no Paraguai, deixando memórias indeléveis e um barco sem terminar.

Quem chega ao átrio do templo de “Panaghya Tsambika”, encontrará um cartaz que diz o seguinte:

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“Templo edificado e doado às almas cristãs”

Assim pensava este homem, sua visão foi de “almas cristãs”, sem sectarismos, sem divisões, sem segregações ou exclusões.

Stefano, deduzo, conheceu a verdadeira liberdade que vem do Espírito Santo, porque em cada espaço de sua existência (que encontro como fragmentos soltos de uma história desconhecida), descubro sua filosofia peculiar em cada ato de sua vida.

Assim, implícita, sem necessidade de explicações, sem estardalhaço ou marketing, como diríamos hoje em dia. Tenho ouvido muitas descrições sobre ele desde que cheguei ao Brasil. Adjetivos que tentam limitar sua pessoa: aventureiro, sonhador, idealista, boêmio. Mas nenhum adjetivo consegue definir e classificar sua personalidade.

Homem livre, o comendador viveu sua vida como poucos se atrevem a vivê-la: de acordo com sua própria filosofia de vida. Aí está o seu próprio limite.

Fundou uma família. Tenho certeza que amou essa família. Amou-a com esse estilo de liberdade que o caracterizava. Como um estrangeiro e, acima de tudo, como um grego, talvez nunca foi inteiramente compreendido por este ambiente desta jovem América do Sul. Era admirado sim, mas o homem não precisa só de admiração, necessita muito mais é de compreensão.

Mas como uma vez já escrevi, são poucos os que, tendo vivido na década de 1950 aqui em Lins, não me digam, como em uma confissão quase secreta, mas não isenta de orgulho, que conheceram Stefano Vassiliadis. Todos querem me contar a história, e eu não encontrei uma única versão igual à outra.

Alguns se lembram da maneira peculiar como se vestia, outros, sua força, sua vontade, seu porte físico, seus olhos, mas há partes inteiras de penumbras em sua história e suas ações. Partes que sei que existem pelo silêncio que as protege.

Lembram-se sim, de sua esposa, de seus filhos e da tragédia da morte de Nicolas.

Acima de tudo, lembram-se de sua esposa, que cuidou da igreja com esmero. Lembram-se dela como uma mulher abnegada, submissa, e como uma mãe sofrida e virtuosa. E as histórias sempre terminam abruptamente com palavras que conheço de memória: “E então eles a levaram para a Grécia — e esclarecem prontamente — todos os gregos se foram de Lins”.

(Continua na Parte II)