Uma primeira abordagem implica reconhecer que as Igrejas do Oriente e do Ocidente desenvolveram teologias e espiritualidades diferentes, que se desconhecem mutuamente e que tendem a se opor quando, na verdade, deveriam se complementar. Vejamos alguns destes diferentes “sotaques”, na opinião de Paul Evdokimov, um dos autores que melhor tem sintetizado o espírito da Ortodoxia:
* O Oriente fala da participação da natureza divina e possui uma visão sintética da fé.
* O Oriente mantém a seiva bíblica, patrística, sapiencial e mística, enquanto que o Ocidente inclina-se pelo método analítico e a razão teológica.
* O Oriente não tem desejos de definir, prefere não definir, enquanto o Ocidente precisa definir.
* O Oriente desenvolve na liturgia a parte mística e sacramental, enquanto que o Ocidente desenvolve mais a parte catequética e didática.
* O Oriente fala da mística e da divinização do cristão; o Ocidente trata mais da dimensão moral.
* O Oriente estima como dom supremo o monasticismo eremítico, enquanto que Ocidente inclina-se para a vida cenobítica e, especialmente, pela vida religiosa ativa.
* O Oriente é mais neoplatônico, fala sobre causalidade formal, da graça incriada, de divinização e transformação ontológica de todo o ser humano, de uma Igreja mais litúrgica e contemplativa, do monaquismo, do sacerdócio dos fiéis, das dimensões ontológicas e cósmicas da redenção, enquanto espera a “parusia”.
* O Ocidente é mais aristotélico, usa a causalidade eficiente, fala preferentemente da graça criada, da visão beatífica, da Igreja militante, da conquista do mundo, do sacerdócio, da hierarquia, das dimensões jurídicas da justificação.
Fonte: “Os Caminhos do Oriente Cristão: Iniciação à Teologia Oriental”, de Víctor Codina.
Tradução do original em espanhol por João R. Antunes